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Ética e auto-reflexão norteiam palestra de historiador Leandro Karnal
Conhecer a si mesmo e reconhecer a vaidade como um entrave à ética: esse foi o mote da palestra do historiador e filósofo Leandro Karnal no 34º Encontro Estadual do MP, na tarde dessa sexta-feira (19/8). Diante de um auditório lotado, ele observou que nunca se falou tanto em ética no país. Seu termômetro é a recorrência da escolha do tema nas palestras que ministra.
Nesse momento em que a população faz duras cobranças por uma postura ética dos representantes das instituições e poderes públicos, o palestrante resgatou o significado do termo dentro do campo filosófico usando como referência Ética a Nicômaco, de Aristóteles. Karnal destacou que esta foi a única obra que o filósofo grego dedicou a alguém, no caso, ao próprio filho, como um paralelo a um dos principais aspectos da ética em nossa sociedade: ela é um legado. “A virtude ética é adquirida pelo hábito. Não nascemos com ela, nascemos amorais. É por meio de um processo lento que vamos ensinando hábitos éticos aos nossos descendentes”, defende.
Para o historiador, um dos maiores desafios à manutenção desse legado ético é uma característica presente em quase todas as pessoas: a vaidade. “A chave da ética é o controle da vaidade. Temos que ser humildes, principalmente quando ocupamos cargos de poder. Quanto maior meu cargo, mais eu sirvo. Grandes titulações significam que eu tenho mais responsabilidades e pessoas para cuidar.”
Ao analisar o momento de grande efervescência política que vive o país, Karnal não pode deixar de citar outra palavra que tem sido constante no repertório do brasileiro: crise. O historiador explica que, etimologicamente, o termo tem origem na medicina, que define crise como o momento que caracteriza a evolução de uma doença, seja para melhor ou pior. “Nenhuma doença é permanente: ou a doença passa, ou o doente passa. Assim como ninguém fica doente para sempre, as crises também não duram para sempre”, enfatiza.
Apesar de reconhecer o caráter cíclico, e de certa forma previsível, de fenômenos políticos e econômicos como as crises, o historiador prefere não se arriscar em previsões. Ele defende que nossa trajetória é construída por meio de possibilidades, mas também de acasos, imprevisibilidades e incertezas. “Mesmo assim, é inegável que os mais bem preparados sobrevivem melhor às crises. Não temos como adivinhar o futuro, mas devemos saber que o momento presente é resultado das escolhas que fizemos”.
Ainda sobre o aspecto da vaidade, ressaltou que ela é um ponto fraco no comportamento humano, e que para combatê-la é fundamental ter autoconhecimento. “As pessoas vaidosas são facilmente controláveis, basta elogiá-las para se conseguir o que quer. Por é preciso mais consciência: ela afasta do ridículo que é a ilusão”.
Nesse contexto entra a figura do que o filósofo define como o “homem perfectível”: aquele que se reconhece falho e constantemente busca o aprimoramento. “Devo me considerar um projeto em formação. A minha vida e a minha biografia são a maior contribuição que tenho com o mundo, logo, eu devo sempre almejar a melhora.”
Essa melhora passa pelo ato de assumir as responsabilidades. Característica que, acredita o filósofo, deve ser aprimorada pelos brasileiros. Resgatando a campanha do Ministério Público estadual, “O que você tem a ver com a corrupção?”, ele defende que o principal envolvimento do cidadão com a corrupção se dá no ambiente micro, no respeito ao espaço do outro. Karnal critica a insistência da população em disseminar o que chama de “os quatro preconceitos pelo qual o Brasil se baseou”: racismo, misoginia, homofobia e demofobia. “Aqui está um dos maiores problemas da cobrança por ética. No Brasil as pessoas dizem que o brasileiro não sabe votar, que vive atrasado, que o Estado é corrupto... apenas transferem as responsabilidades para os demais. Responsabilidade não é dizer: o Brasil não é um país ético. É analisar se eu, como indivíduo em sociedade, estou sendo ético em meus atos. Somos perfectíveis e somos responsáveis pelo que acontece em nossas vidas e no seu entorno”.
Dentro dessa ótica, problema e solução têm a mesma origem: as pessoas. Voltando à sua reflexão inicial, o historiador, mesmo não sendo muito chegado a previsões, acabou por trazer uma perspectiva otimista para o futuro. “Todos estão clamando por ética. Eu nunca vi tanta gente tentando mudar o país. Essa é a nossa maior chance: um problema humano resolvido por humanos, um problema brasileiro resolvido por brasileiros. Nunca estivemos tão perto de conseguir isso até agora”.
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Assessoria de Imprensa ACMP
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