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Natuza Nery pede aproximação entre imprensa e Ministério Público
“Vocês têm muitos motivos para se sentirem orgulhosos” este foi o cumprimento de Natuza Nery, jornalista da Globo News e da Rádio CBN, aos mais de 160 promotores e procuradores de justiça do Ministério Público de Santa Catarina que participaram do 35º Encontro Estadual, em Gaspar. Para a jornalista, o MP se tornou uma das peças mais importantes nos últimos quatro anos, em um país onde o combate à corrupção é uma tarefa quase “quixotesca”.
E foi com este tom de incentivo que Natuza conduziu a palestra onde falou sobre a relação da imprensa com os órgãos públicos, cobertura de política e de eleições. Em diversos momentos, a jornalista frisou a importância da relação do Ministério Público e da Polícia Federal com a imprensa e, mais do que isso, de um contato que seja afinado. Ela explica que os jornalistas buscam no Ministério Público muita informação e que existem dois tipos de imprensa: a especializada, que cobre política o tempo todo e é capaz de entender os jargões e o funcionamento das instituições, e a não especializada, que precisa de um pouco mais de didatismo.
Com este gancho, Natuza fez um apelo aos membros do MP para que tentem traduzir algumas informações para a imprensa, com o intuito de melhorar a qualidade da comunicação e o nível de trabalho. Segundo ela, há certa incompreensão em todos os níveis de entendimento por parte das pessoas, então, quanto mais esclarecido estiver o jornalista, melhor fica a situação para quem concede a informação. Mas a jornalista também reconheceu a responsabilidade da imprensa de pesquisar, se informar, cruzar informação para não propagar dados imprecisos. “Para mim, a pior coisa que um jornalista pode cometer é um erro, seja de grafia, de apuração ou uma injustiça”, completa a repórter.
Para demonstrar a importância da relação de proximidade com a fonte, ela relembrou o caso de Geddel Vieira Lima, ex-ministro do governo Temer, que pressionou o então ministro da Cultura Marcelo Calero, para tornar favorável a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) à construção de um prédio de luxo em Salvador. Marcelo deixou o seu cargo após o ocorrido e ofereceu informação exclusiva à Natuza para ser publicada em sua coluna “Painel”, da Folha de São Paulo. Mas a jornalista julgou que se a informação fosse dada em off perderia força na publicação. Então, preferiu aguardar outro veículo expor a versão do Planalto sobre a saída do ministro e publicar a versão em on de Calero com exclusividade.
Natuza Nery acredita que esse tipo de situação só é possível quando há uma relação de confiança entre jornalista e fonte. Ela ainda faz questão de evidenciar que “confiança” não deve ser interpretada como “lealdade”, pois o principal compromisso do jornalista é com a informação e não com as instituições. O contato com o MP e com a Polícia Federal, entre outras instituições, é positivo no sentido de ensinar o profissional da comunicação o modo de pensar de um Promotor de Justiça, Procurador de Justiça ou policial. Mas também traz benefícios aos investigadores, que conseguem transmitir as informações corretas, e à sociedade, que fica bem informada.
Em sua defesa da aproximação entre instituições e imprensa, Natuza também considera essencial que os investigadores tenham a liberdade de dizer aos jornalistas que uma informação está incorreta. “Uma informação errada tem um poder destruidor”, alerta.
Eleições
A repórter chamou atenção para o movimento de defesa do voto nulo, que corresponde a 30% dos eleitores, e fez uma interpretação da situação como uma crise de representatividade brasileira que se agrava no Congresso Nacional. Em sua avaliação, a maior parte dos atuais integrantes do Congresso vai se reeleger nas eleições de 2018 e voltar com mais força no início do mandato, tentando colocar limites no Ministério Público, no Judiciário e no Supremo Tribunal Federal (STF). “Estamos a dois passos do abismo”, lamenta. Natuza julga que o Congresso jamais foi tão forte quanto está hoje e elenca como principais evidências dessa situação o caso Temer e a saga JBS. Para ela, o único motivo para o presidente Michel Temer não sofrer impeachment é a vontade contrária dos congressistas.
A jornalista observa as ações que o Congresso faz para tentar blindar a classe política, mas crê que imprensa e Ministério Público, com um forte setor de comunicação, podem barrar essas atitudes.
Ao ser questionada sobre sua percepção sobre o espaço dado nas redes sociais aos candidatos, Natuza diz que vê esse ambiente de forma mais igualitária e democrática para os concorrentes, onde todos têm o mesmo espaço de campanha. Porém, as redes sociais também podem criar condições que facilitam a disseminação de fake news, um mal que, para ela, veio para ficar, mas que pode ter seus efeitos minimizados. E sugere que o principal modo de proteger a população das fake news é com um “treinamento de defesa” para identificá-las.
Outro problema apontado pela jornalista sobre as fake news é que nem sempre quem as compartilha é desinformado, mas tem interesses por trás da disseminação de informação falsa. E contra a má fé das pessoas, Natuza considera que não tenha solução a não ser que a sociedade seja censurada, o que não vê como uma saída.
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Assessoria de Imprensa ACMP
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