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Poesia: Monólogo da árvore
O Associado Luiz Adalberto Villa Real escreveu a poesia “Monólogo da árvore”, que descreve a vida de uma árvore de seu plantio à morte. Confira o texto abaixo:
Sou uma semente
lançada em terra fértil
pelo bico
de um bem-te-vi descuidado.
Enquanto minhas raízes
rasgam as entranhas de Gaia
na busca de nutrição,
enveredo com ânsia
na direção do espaço.
O emaranhado verde
de minhas folhas
enxuga o suor dos viajantes
calcinados pelo sol meridional,
protege a passarinhada esvoaçante
do chuveiro celestial.
Meus galhos fortes
não se sufocam
ao arrocho das cordas dos balanços
no vaivém da criançada.
Dou frutos que alimentam.
Resisto ao calor,
ao frio,
à fúria das tempestades
que insistem
em vergar meu tronco.
A cada inverno que me açoita
ofereço-me ao desbaste.
Revigoro na primavera.
Meus galhos secos
abastecem fornalhas,
aquecem corpos saltitantes
ao redor das fogueiras de São João.
Minha ramagem
tremula faceira
ao bafejo da brisa carinhosa.
Servi de inspiração
a desenhos rupestres,
pinceladas renascentistas,
muitas páginas literárias.
Meu tronco geme indefeso,
minhas folhas choram assustadas,
a seiva corre descompassada
em minhas veias
ao ronco ensurdecedor
das motosserras
mensageiras da morte,
próximas e frenéticas,
em mãos insensíveis,
ansiosas pela destruição
da minha verde floresta.
Luiz Adalberto Villa Real
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